"Equador" de Miguel Sousa Tavares (Opinião)

 




        Um livro que nos leva atrás no tempo, a uma altura em que novos modos de vida e visões mais humanitárias eram implementadas aos poucos. Estava a acontecer uma reviravolta mundial, com o fim da escravatura e a implementação de ideias democráticos inovadoras, no entanto ainda eram predominantes os muitos homens que se recusavam a acompanhar a mudança, marcando uma posição retrograda muitas vezes apoiada por falcatruas e ilegalidades. Neste tempo, Portugal estava muito atrás dos restantes países da Europa, com níveis de analfabetismo quase de 100% e uma completa falta de cultura geral na maioria da população.
    
     Luís Bernardo Valença era um homem diferente! Habituado à boa vida que o dinheiro lhe proporcionava na grande Lisboa, bom estatuto familiar e de formação, um licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, nunca teve grandes preocupações na vida. Um defensor dos métodos inovadores de trabalho, sem uso de escravos, defensor dos direitos de todos os homens, principalmente daqueles que pertenciam à sua prática, não esquecendo os moradores e trabalhadores das colónias do Império Português independentemente da rua raça, etnia ou crença religiosa. Certo dia, é convocado à presença do rei D. Carlos, que o nomeia governador de S. Tomé e Príncipe, com o objetivo de convencer o cônsul inglês que não há escravatura nas roças das ilhas e, ao mesmo tempo, mudar as mentalidades dos donos dessas roças, mas garantindo sempre o lucro que a ilha proporcionava todos os anos. Uma missão quase impossível, mas que ele se vê de certo modo obrigado a aceitar. 

        O livro conta toda a historia da aventura de Luís Bernardo como governador, o seu destino, os seus erros, a sua visão moderna e humanitária e a cima de tudo, os seus sentimentos e intuições que acabam por o atraiçoar. 

        Passei metade do livro com raiva da maior parte das personagens, pois não consigo entender como se podia ser tão irracional, maldoso, interesseiro e ganancioso, enquanto a outra metade foi passada com pena da nossa personagem principal. Vemos descritos aos pormenor aos conflitos políticos, a falta de evolução de mentalidades e um comodismo, que demonstravam a incoerência dos objetivos com os modos de agir, tal como a incapacidade de pensar no próximo como um igual. Ao mesmo tempo, somos bombardeados com descrições fantásticas que põem a nossa mente curiosa a funcionar ao tentar criar aquele cenário selvagem, sombrio e misterioso na minha imaginação. Lugares diferentes de tudo aquilo que já vi. Passamos da civilização de uma capital europeia para o meio da selva virgem, cheia de perigos e não há instinto que resista a ficar apaixonado por tal.

        Um livro que recomendo a qualquer português ler, por além de ser uma obra de alto valor nacional, ninguém se deve privar da bela história que aqui nos é contada. Um romance repleto de drama e conflito. 

        Já estava para ler este livro ao tempo, mas acabei por finalmente tomar as iniciativa quando no desafio de leitura Pelos Caminhos de Portugal havia uma categoria que requeria um livro histórico, valendo-me assim o selo Foclore. Acabou por também ser uma leitura que se enquadra no meu projeto Livros e o Minimalismo, pois é um livro que pertence ao meu pai!

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        Fiquem com Deus ❤


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