"O Prenúncio das Águas" de Rosa Lobato de Faria (Opinião)

           

            Este pequeno livro estava numa das estantes de minha casa há bastante tempo, passava bastante despercebido pois é um livro pequeno e com uma capa muito pouco chamativa, apesar de bonita. À uns meses o meu pai falou-me muito bem dele, então quando começou o desafio de leitura Pelos Caminhos de Portugal decidi que era altura de o ler. Juro que foi das melhores decisões que tomei!! 

        Uma escrita simples, mas ao mesmo tempo requintada, acompanhamos a Filomena, filha de portugueses imigrados em França, que decide voltar à terra natal dos pais, quando descobre que esta ficará submersa pela construção de uma barragem. Ela vem com o intuito de fotografar e escrever sobre o acontecimento, mas rapidamente se liga às suas raízes. A história é contada pela prespetiva de várias personagens, tornando o enredo muito interessante e de certo modo divertido. Filomena depressa se torna a imagem da mulher moderna naquela terra pacata e que não via nada acontecer à anos. Com o intuito de deixar registados todos os pormenores naquela velha aldeia assim como as suas tradições e histórias, acaba por se tornar a imagem de justiça dos habitantes a quem seria retirada a sua estimada terra.

"Não se fazemos justiça, mas fazemos mitologia. Às vezes ainda sou jornalista e é nessa qualidade que estou a lutar para que, ao submergirem o corpo da aldeia, não afoguem de vez a sua alma."

             Filomena fica de certo modo deslumbrada com as histórias de Sebastiana, a contadora de lendas e tradições, e acaba mesmo a sonhar com elas. Há até uma frase que gostei muito e vou deixar com vocês!

"é que o futuro, filha, sempre lá esteve, a gente é que raramente lá vai. Mas às vezes acontece e em sonhos, então, é quase sempre."

            Vemos recorrentemente um pouco criticado o sentido de possessão de algo que não é realmente nosso, até em certa altura uma das personagem compara a vida deles que agora parece um terror por lhes tirarem o sítio onde sempre viveram (mesmo oferecendo-lhes um novo) com o estilo de vida nómada do ciganos, que não se sentem presos a nenhum lado sendo assim mais felizes. Algo que eu achei bastante importante, porque fez-me refletir sobre realmente aquilo que é meu e nunca me poderá ser tirado, com o que eu acho que é meu, mas a certa altura poderá deixar de o ser. Assim como este tema, há muitos outros sobre os quais este livro nos obriga a refletir, por isso aconselho muito a sua leitura!

"E quando o sol subiu, como a dizer, por muito que o vosso mundo morra e a vossa terra, a vossa gente, os vossos sonhos e as vossas ilusões, eu estarei sempre cá, para iluminar outras ilusões, outros sonhos, outras gentes, outras terras e outros mundos"

             Andava numa onda de querer descobrir mais obras nacionais e este livro foi sem dúvida uma bela surpresa, leiam-no e falem dele porque

é reconhecimento merecido!!

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                 Fiquem com Deus e boas leituras 😘


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